Para ser Grande

Para ser grande, sê inteiro.
Nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Pôe o quanto és no mínimo que fazes.
Pois assim, em cada lago,
a lua toda brilha,
porque alta vive!

Fernando Pessoa

V de Vingança

Excelente produção de Joel Silver e dos irmãos Wachowski(diretores de Matrix), com direção de James McTeigue. V de Vingança(V for Vendetta) é baseado nos quadrinhos dos cultuados Alan Moore (Constantine) e David Lloyd e conta uma história que se passa numa Londres futurista caída em um regime fascista. O protagonista da história é um "terrorista" mascarado imbuído da missão de libertar o povo londrino do governo tirânico sob o qual vivem, totalmente anestesiado por uma mídia controlada à mão de ferro, além das infinitas câmeras espiãs que bisbilhotam a vida de todo mundo, uma clara referência ao Big Brother de Wells, e também patrulhas acústicas diárias que escaneiam as conversas mais íntimas do povo londrino. O filme recria com competência o clima sufocante da manipulação fascista com todos os seus crimes e discriminações execráveis, nos remetendo naturalmente ao Nazismo, ao Stalinismo e às velhas ditaduras da América Latina, e é claro aos governos autoritários ainda em voga, a exemplo da China e a Coréia. Vê-se como esses regimes manipulam inescrupulosamente o medo do povo(via mídia) para justificarem a sua existência. Nisso, o filme é primoroso. Diria que é um verdadeiro "ensaio" anti-fascista, ao nível de "Z", de Costa-Gavras. O roteiro é muito bem escrito e cheio de referências antológicas da literatura inglesa(Sheakspeare e Dickens, por exemplo). Estranhamente, o Alan Moore não aprovou a adaptação e está em rota de colisão com os estúdios DC Comics(detentor dos direito da obra).
Um detalhe interessante que me surpreendeu foi uma cena romântica(aos 35 min) em que o protagonista V(Hugo Weaving) frita um ovo para Evey(Natalie Portman) ao som de Garota de Ipanema(instrumental) executada por Stan Getz(salvo engano). Tem também Corcovado(instrumental), numa clara homenagem à Música Brasileira.
Não percam! Nos melhores cinemas de sua cidade!

O Fantasma Tucano

Foi de embrulhar o estômago a entrevista(04/04) de Fernando Henrique Cardoso no programa do Jô. Um verdadeiro festival de pernosticismo, ironia, rasgação de seda e amenidades, onde mais se falou dos encontros de FHC com a Rainha da Inglaterra, dos jatares de recepção para o casal Clinton(onde o Jô fez questão de lembrar a sua indispensável presença) e da sua mais recente contribuição para a ciência política mundial, o livro A Arte da Política. Talvez Maquiavel esteja com os dias contados. FHC não perde a sua tão bem conhecida ironia cínica e elitista, chegando a afirmar que entrou na política por acaso e acusando Lula de ser político profissional. Claro que ele não deixou de lembrar que foi exilado no Chile pela ditadura militar. Só esqueceu de lembrar que enquanto ele tomava vinho Chileno, os verdadeiros perseguidos morriam aqui nos paus-de-arara do DOPS. Também não foi perguntado pelo Jô sobre as acusações de corrupção do seu governo e das CPIs que ele abafou com mão de ferro(Pasta Rosa, Privatizações, ...), os acordos escusos com as Teles que até hoje oneram o governo federal, nem também dos golpes baixos que perpetrou contra seus então aliados(Os dólares de Roseana Sarney). É pena ver um cara inteligente como o Jô baixar tanto o seu nível de entrevistador e humorista para bajular FHC. Daqui a uns dias o Jô vai trocar o seu público pelo o de Hebe Camargo.

Sin City-A Cidade do Pecado

Frank Miller-Robert Rodriguez-Quentin Tarantino

Sem dúvida uma das melhores adaptações dos quadrinhos para o cinema, aprovada e co-dirigida pelo próprio Frank Miller, um dos maiores autores de HQs da atualidade, conhecido como o mestre do "Alto Contraste" em preto e branco. Esse longa metragem integra as estórias: "A cidade do pecado", "O assassino amarelo" e "A grande Matança". Uma bela produção jamais vista, só possível com as técnicas modernas do cinema digital. O filme tem um roteiro adaptado, quase "ipsis literis", e não perde a essência da mídia dos quadrinhos, sem contar com as excelentes interpretações dos atores principais, a exemplo de Mickey Rourke que está impecável no papel de Marv.
As estórias são belíssimas crônicas da vida decadente das grandes metrópolis, com seus personagens corruptos e desvirtuados, uns no topo da estrutura social e outros na sarjeta, beirando as fronteiras do niilismo em uma atmosfera tipicamente dostoievskyana. Alguns personagens Frank Miller eleje como verdadeiros anti-heróis, a exemplo de Marv, um misto de herói e bandido que vive procurando uma razão para viver movido a anti-psicóticos. Choca um pouco uma dose a mais de hiperviolência com que Miller tempera a sua narrativa, mas impossível separá-la de suas histórias sem comprometer a mensagem. Percebe-se também a mão do grande Tarantino(Pulp Fiction) na concatenação da estórias. Esse, dispensa comentários e apresentações. E também a ação coreografada do cineasta mexicano Robert Rodriguez(Il Mariacchi). Não percam! Em DVD nas melhores locadoras!
E vem aí: Sin City 2

Abolição e Reforma Agrária

Manuel Correia de Andrade

Publicado pela editora Ática(2001,S.Paulo-2ªedição, 86pp,série: Princípios), esse ensaio de Manuel Correia de Andrade traça um panorama conciso do problema da terra no Brasil, desde a escravidão até o pós ditadura militar, porém anterior ao MST. De leitura dinâmica e agradável ao leitor não acadêmico, mas sem perder a precisão histórica e científica.